segunda-feira, julho 20, 2009

Quanto vale um
técnico de futebol?



Não faço parte do grupo de pessoas que tem particular interesse pelo salário alheio. Pouco me importa. Acho que cada um deve viver a sua vida. Mas admito que alguns valores causam estranheza no mundo do futebol. Fala-se em 100, 200, 500 mil reais por mês como se fosse dinheiro de troco, ou de pinga, como se fala no interior.

Também não figuro no time daqueles que acham absurdo jogador de futebol ganhar bem. Tenho amigos que fazem a seguinte comparação: um presidente de multinacional não ganha isso, um executivo, um economista, um advogado e por aí vai. Puro preconceito. Jogador de futebol tem que ganhar bem, sim, porque faz parte de uma indústria poderosa, a do entretenimento, e faz girar uma montanha de dinheiro mundo afora.

Da mesma maneira que se cobra um jogador pelo fracasso na Copa do Mundo, deveria ser cobrado o executivo que leva uma empresa à falência, ou o "gênio" da economia que afunda países com suas previsões furadas. Só porque têm esse certo estofo intelectual eles merecem ganhar mais do que o tosco boleiro? Não acho.

O que eu, sim, acho, é que um clube de futebol brasileiro que aceita pagar R$ 500 mil por mês a um técnico de futebol está dando um tiro no próprio pé. E, acreditem, há salários até maiores do que esse. Se fizesse tudo direitinho, pagando um salário desses registrado em carteiro, um clube gastaria R$ 6,65 milhões por ano só com o salário do treinador. Some-se a isso igual valor em impostos, que é o que ouço falar da conta certa do custo de um empregado, seriam mais de R$ 13 milhões por uma temporada apenas para o técnico.

Também pelo que ouço por aí, R$ 15 milhões é o valor médio que um grande clube do futebol brasileiro recebe para estampar a marca de um patrocinador em sua camisa por uma temporada. E falo dos mais populares, em ordem alfabética: Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Vasco.

Então, me perdoem os nossos dirigentes, mas a conta não fecha nunca. O Cruzeiro faturaria R$ 13 milhões se tivesse vencido a Libertadores. Ou seja, não dá para pagar mais a um técnico do que renderia a um clube brasileiro a maior conquista continental.

O que faz mais sentido? Pagar R$ 500 mil por mês a um treinador ou pagara o fenomenal salário de R$ 100 mil a cinco bons jogadores? Ou mesmo o fantástico salário de R$ 50 mil a dez jogadores de boa capacidade?

Se o maior faturamento de um clube de futebol brasileiro chegou perto dos R$ 150 milhões em 2008, deixar quase 10% disso na mão de uma pessoa não parece lógico. Ainda que quem tecle essas linhas tenha escrito um livro exaltando alguns dos maiores treinadores do futebol brasileiro.

Tudo isso precisa ser pensado e repensado. Claro que bons profissionais merecem bons salários. Mas os treinadores seriam as grandes estrelas? Alguém vai a campo ver o técnico atuar? Algum torcedor compra camisa de técnico, terno de técnico?

Não sei quando, mas em algum momento a ordem acabou sendo invertida e os treinadores passaram a ter mais importância do que a já grande importância que merecem.

Quando leio num jornal que há treinador pedindo R$ 700 mil/mês, só pode ser para não fechar. Ou para fechar o clube que aceita pagar isso e não fatura para tanto.

3 comentários:

Miguel Roriz disse...

Nori,

Sou português, vivo em Portugal, mas sigo o seu blog com muita atenção, bem como os do globoesporte. Vejo pela net o redacção, o arena e o troca de passes e gosto muito dos seus comentários. O problema dos técnicos começou com José Mourinho. Ele se acha o rei do pagode, o special one, e todo o mundo foi atrás. Hoje em dia, todo o técnico entende que é mais que os jogadores.

Blog do Carlão - Futebol é nossa área disse...

Sei que você não particularizou, mas eu vou fazê-lo.

Sobre Muricy.

Creio que ele jogou o preço lá em cima para Palmeiras e Santos porque quer trabalhar no Inter.

É apenas minha impressão, e não uma informação.

Prestes disse...

Onde eu assino?