sexta-feira, setembro 30, 2011


Hino de Belém


Enquanto enfrentava o cada vez mais caótico trânsito paulistano, ouvi um comentário do excelente José Nêumane Pinto, na rádio Jovem Pan, sobre o comportamento da torcida paranese durante a execução do Hino Nacional Brasileiro antes de Brasil x Argentina.

Concordo e discordo de algumas opiniões e ideologias do Nêumane, mas o admiro profundamente como intelectual informado e articulado. Nesse caso do Hino, assino embaixo tudo que ele disse. Que foi basicamente o fato de o povo belenense e paraense ter tratado o Hino com o devido respeito e consideração.

Sou contra manifestações ufanistas e a mistura, que acho equivocada, de futebol com patriotismo. Futebol é manifestação cultural. Patriotismo não tem nada a ver com encher o peito e gritar gol do Brasil e depois sair do estádio e ser uma porcaria de cidadão. Sonegar impostos, comprar produto pirata, ser um mau chefe, um mau pai, um mau filho, um péssimo político etc. Só para exemplificar.

Claro que nem todo mundo é assim, e tem gente que é patriota de verdade por ser um bom cidadão, por respeitar seu País e respeitar seus conterrâneos e torcer pelo time de futebol.

A questão do hino é que ele foi banalizado completamente nos estádios de futebol, por causa de mais uma dessas leis inúteis que obriga a execução do mesmo antes dos jogos. Mas executam no sentido de carrasco da palavra. Tocam o hino pela metade, em alguns locais com andamento errado e acelerando a execução para ganhar tempo.

Em alguns estados da União o hino estadual também é executado e muitas vezes tocam este inteiro e o Nacional pela metade! Quando não vaiam o mesmo!

Vejam bem, acho importante que se respeite os hinos estaduais, os regionalismos e questões culturais de um País tão rico em diversidades como o nosso. Mas já vivemos num Brasil avacalhado pela politicagem, pelo descalabro, pela violência e por abrigar uma das piores classes políticas do Universo . Se avacalharmos o Hino, um dos nossos símbolos de unidade, aí vai sobrar o quê?

E repito, não sou ufanista, ultranacionalista, nem nada. Gosto de ser brasileiro, tenho verdadeiro orgulho disso e trabalho para ser um cidadão melhor e, com isso, ajudar a melhorar o País. Independentemente de a seleção ganhar ou perder jogos.

Por isso o episódio do Hino de Belém deveria ser emblemático. As pessoas ignoraram a mutilação do hino e seguiram cantando a plenos pulmões, por vontade, por alegria, por gostarem, mas foi espontâneo, genuíno, natural.

Patriotismo não é comprar camisa e fazer churrasco com amigos, depois xingar técnico e jogador de quatro em quatro anos.

Como símbolo popular de nossa cultura, a seleção brasileira pode ajudar muito nisso, desde que seja mais brasileira e menos comercial, que jogue mais no Brasil, que empreste seu prestígio para campanhas de cidadania.

Se der para jogar mais futebol a gente também agradeceria.

3 comentários:

Renata Cavalcante disse...

Como eu bem me lembrei na hora em que estava vendo o jogo quarta-feira, a torcida paulistana fez coisa parecida em 2004, num Brasil x Bolívia no Morumbi, válido pelas eliminatórias da Copa de 2006. Cantamos a 2ª parte do hino, que jamais é executada, só no gogó. Foi lindo. Fico revoltada com o desrespeito das pessoas ao hino nacional, é o cúmulo da falta de educação.

Letícia disse...

Concordo especialmente com o penúltimo parágrafo. De resto, reconheço que o patriotismo envolve muito mais, mas acho que aqui falamos mais sobre o caráter. Uma boa pessoa é geralmente um bom cidadão, sendo ele "patriota" ou não.

Rubão disse...

...excelente observação: "que empreste seu prestígio para campanhas de cidadania". Daí sim a seleção seria mais patriota.

Um abraço,
Rubão