quarta-feira, outubro 24, 2012



Supetramp brinda

 

fãs com relíquia




Para toda uma geração, da qual faço parte, o disco (sim, naquela época a gente chamava assim) Paris, do Supertramp, é um ícone. Registro ao vivo de dois dos quatro shows que a banda fez entre o 29 de novembro e 2 de dezembro de 1979, no Pavillion de Paris, o álbum duplo (posteriormente relançado em CD) era presença obrigatória em qualquer estante de discos.

Ouvir a ambiciosa Fool´s Overture a todo volume fazia parte do ritual de fim de noite em muitas festas regadas a cuba libre (para quem já bebia). Isso sem falar na emblemática Logical Song, que ajudou muita gente a tirar boas notas em inglês na escola, uma esfuziante Dreamer e em outros clássicos da banda capitaneada por Rick Davies, Roger Hogdson e John Helliwell.

A engenharia de som fantástica de Russel Pope fez de Paris um dos álbuns ao vivo com a melhor qualidade sonora do pop/rock. A musicalidade e o virtuosismo do Supertramp foram captados com o que havia de melhor em termos de tecnologia em 1979, e o som do disco oferece uma experiência próxima à de assistir ao concerto ao vivo.

Os fãs mais fiéis da banda sabiam da existência de uma filmagem de um dos quatro show que o Supertramp fez em Paris naquele final de 1979, para promover o disco Breakfast in America. O Supertramp estava no auge, e o álbum colecionava números um pelo mundo afora.

O que se sabe agora, por obra da Eagle Rock Entertainment, que tem constantemente brindado fãs do bom pop/rock com DVDs e Blu-Rays de altíssima qualidade, é que o terceiro daqueles quatro shows do Supertramp foi filmado em 16 milímetros, com extravagantes - para a época - quatro câmeras. O conteúdo de quase todo o show foi remasterizado e editado em alta definição e empacotado em DVD e Blu-Ray, com o som também remasterizado das fitas originais pelo engenheiro Russel Pope e o produtor-assistente Pete Henderson.

Situações inimagináveis hoje, mas prosaicas para a época, fizeram com que cinco das canções daquele show não tivessem sido filmadas. Os rolos de filme eram insuficientes para as duas horas e meia de espetáculo, e o orçamento não permitia extravagâncias.

Para suprir essa ausência, a Eagle Rock e o Supertramp oferecem as cinco músicas (Ain´t Nobody But Me, You Started Laughing, A Soap Box Opera, From Now On e Downstream) remasterizadas com imagens produzidas especialmente para o DVD. O resultado é o ponto fraco do pacote. Lembra muito vídeos amadores que estão no Youtube ou apresentações em Power Point. Mas a qualidade do áudio compensa.

As imagens capturadas em película são o registro fiel da época e não se mostram artificiais quando convertidas para o formado em HD. Algumas perdas de foco dão o tom realista ao projeto.

O que mais interessa é a performance afiadíssima da banda. Rotulado como progressivo e rock-arte por alguns, o Supertramp desafiava carimbos por ser apenas e tão somente uma grande banda, integrada por músicos de grande categoria, capazes de repetir com fidelidade absoluta o som produzido em estúdio, e ousados o suficiente para inserir algumas inspiradas jam sessions.

Rick Davies (vocais, teclados e harmônica) e Roger Hodgson (vocais, guitarras e teclados) são as vozes da banda, mas o DVD deixa claro que John Helliwell, responsável pelos instrumentos de sopro e alguns teclados, tinha forte liderança e influência sobre o som da banda. O baterista Bob Siebenberg e o baixista Dougie Thomson formavam uma cozinha ritmícia de rara consistência, sustentando a veia jazzística da banda, cujo representante principal era Davies. Cabe lembrar aqui que a canadense Diana Krall, estrela do jazz atual, é fã do Supertramp, o que ajuda a viabilizar a conexão.

Quase todos os clássicos do Supertramp estão no DVD. A delicada e belíssima Hide In your Shell, a alegria acústica de Give a Little Bit, e mais Goodbye Stranger e a progressiva Crime of The Century. Uma coleção impressionante de sucessos e competência musical.

Assim como no disco e no CD, também no DVD Fool´s Overture se destaca. Pelo desempenho impecável dos músicos, as projeções de imagens no telão e uma inusitada invasão do palco por integrantes da equipe da banda fantasiados de personagens como Chaplin e Superman e uma inexplicável banana.

Uma relíquia que agora chega às lojas, por cerca de R$ 40 (o DVD), resgatando um dos mais importantes grupos e uma das mais inspiradas performances do final dos anos 70.

Vale cada centavo.

2 comentários:

Alexandre Giesbrecht disse...

Eu tenho comentado pouco (ou, mais precisamente, quase nunca), mas este texto me tocou. Nem sou assim um grande fã do Supertramp. Tenho algumas músicas deles no meu iTunes e para por aí. Mas, quando li sobre "Fool's Overture", bem, aí é que a coisa me toca fundo. Essa é a "música de gente grande" mais antiga de que eu me lembro. Meu pai punha para tocar no toca-discos o "Even in the Quietest Moments", e meu irmão e eu deliciávamo-nos com essa música, que, sei lá por quê, chamávamos de "Música do carro". Talvez porque, para nós, fosse como assistir a um videoclipe (que, lá pelos idos de 1980 ou 1981, acho que ainda nem tinha sido inventado), com um carro passeando por alguma estrada nevada, provavelmente próxima ao piano da capa do disco. Ao menos é isso que me passa na cabeça, mais de trinta anos depois, cada vez que ouço a música. E, sim, coloquei para tocar no iPhone, já que neste instante estou longe casa. E a "Música do carro" foi a inspiração que tive para dar a iniciação musical ao meu filho, não parando nela, mas em todas que tocam no meu carro quando estou com ele: cada uma tem seu nome, inspirado no título, na letra, no videoclipe ou em algo que passar pela minha cabeça. "Hells Bells" é a "Música do sino", "Supersonic" é a "Música do avião" e por aí vai. E ele adora. Boas lembranças que o seu texto me proporcionou.

Luiz Antonio PM disse...

Grandes bandas do período, como ELO, Genesis etc têm feito, nas pessoas de seus representantes oficiais, esforços para disponibilizar, com a tecnologia atual, o que não foi plenamente possível em suas épocas originais. Assistir tais espetáculos em HD e áudio remasterizado é, na maioria das vezes, remoçar-se a si próprio. Já estou procurando esse DVD.

Abraço