quarta-feira, novembro 07, 2012



O modelo do campeão



Pode não ser neste domingo, mas fatalmente será antes da última rodada. O Fluminense confirmará o título que conquistou com todos os méritos em mais alguns dias, faturando o Brasileirão de pontos corridos duas vezes em três anos. Estabeleceu um domínio, portanto.

Mas quais os segredos, qual a cara, e qual é o modelo desse time que assume a ponta do futebol nacional?

É mais fácil explicar o que acontece em campo do que fora dele. O Flu de Abel Braga é um campeão simples, direto, sem frescuras. Como quase sempre são os campeões dirigidos pelo Abel. O futebol raramente se presta a grandes sofisticações, revoluções, tipo o Barcelona, o Santos de Pelé. Historicamente há bons times em profusão, dezenas de grandes times e raras equipes espetaculares.

O segredo desse Flu de Abel está na perfeita compreensão dos jogadores da proposta de seu treinador. O time é taticamente moderno, está inserido no contexto atual do futebol. Trata, primeiro, de se defender bem, de perder pouco. Depois, resolve os jogos.

Particulamente, gosto da maneira como o time do Fluminense se recompõe. São raros os gols de contra-ataque, daqueles que pegam zagueiros, laterais e volantes correndo de frente para o próprio goleiro, numa clara situação de time dessarumado. Por falar em goleiro, um dos segredos é ele, Diego Cavalieri, o melhor do campeonato. Quando o time falhou, ele esteve presente para garantir.

Mesmo sem contar com jogadores de defesa especialmente talentosos, o Fluminense sabe se defender. Isso chama-se disciplina tática. Os volantes protegem bem a defesa, cobrem os avanços dos laterais. Jean se destaca pela mobilidade. Aparece no ataque, volta para cobrir laterais, tem o pulmão e a execução de um volante moderno. Edinho contribui com experiência e conhecimento tático dentro de campo, tratando de organizar em campo o que Abel pede.

E do meio para frente entra o talento de um grupo de jogadores acima da média atual do nosso futebol. Deco, Fred, Nem, Thiago Neves, Wagner, Sóbis. Essa turma, mesmo os que ficam mais no banco do que em campo, seria titular em qualquer outro time brasileiro.

Como falei da simplicidade, no Fluminense ela se verifica pela dupla de ataque quase frequente. Wellington Nem é o jogador de lado de campo, rápido, driblados, o complemente ideal para um definidor de estilo e categoria como Fred. Mais que isso, Nem sabe entrar na área, faz gols, e volta para marcar. Porque quando não tem a bola, o Flu se fecha como poucos times sabem fazer. Diria que apenas o Corinthians se defende tão bem. Abel coordenou de maneira perfeita essa transição de sistema de jogo. Atacando, o Flu chega com Nem, Fred, Thiago Neves, Deco e até Jean. Sendo atacado, laterais e zagueiros formam uma linha de quatro, os volantes ficam à frente dessa linha, outros três atletas preenchem o espaço da linha divisória e apenas Fred fica mais à frente.

A grande diferença em relação ao Atlético Mineiro e ao Grêmio é  consistência defensiva, o fato de perder menos e conseguir vencer partidas nas quais é dominado pelo adversário. O Fluminense não teve vergonha alguma em ser dominado. Pelo contrário, soube tirar proveito dessa situação.

E fora de campo, que modelo tem esse campeão?

Diria que é uma espécie de mecenato. Há um torcedor, um empresário com muitos recursos, que os canaliza para sua maior paixão, sabendo tirar proveito em favor da enorme exposição que o futebol dá a sua marca. O Fluminense pracicamente terceirizou seu futebol, em termos financeiros, para essa empresa, a Unimed, do ramo de planos de saúde. É um modelo. Pode-se contestá-lo, dizer que não vai durar para sempre, mas foi a saída encontrada por um clube que vinha acumulando problemas, ainda luta com uma dívida astronômica e não tinha capacidade de investimento.

Houve várias soluções parecidas no Brasil. O Palmeiras com a Parmalat. Parceria de sucesso que o clube paulista não soube capitalizar em termos administrativos e hoje sofre com a incompetência de seus dirigentes em administrar essa herança. O Corinthians tentou com banco, com fundo de pensão americano, com empresário de origem duvidosa mas foi se acertar por conta própria depois de tudo isso. O Cruzeiro embarcou na mesma onda do fundo de pensão que o Corinthians abraçou. Inter e Grêmio apostaram, com sucesso, em excelentes projetos de sócios-torcedores.

O São Paulo sempre foi avesso a parcerias declaradas, mas sempre as teve com empresários de jogadores, daqui e do exterior (Figger, Todé, Torcal), e segue nesse ritmo até hoje. O Flamengo ainda não encontrou uma maneira de capitalizar a força de sua gente. Deveria mirar no exemplo do Corinthians.

Mas o Flu achou seu caminho. Não é definitivo. Já esteve à beira de ser interrompido esse projeto, porque basicamente depende de uma pessoa, o mecenas. Como a política dos clubes de futebol brasileiros é canibal, uma palavra pode fazer ruir o castelo. Seria o caso de aproveitar o período de bonança e construir um projeto que possa resistir às tempestades que atingem todos os times.

A grande lição do mais que provável campeão brasileiro de 2012 está na simplicidade do jogo, na eficiência da execução da proposta e no fato de ter bons jogadores em bom número. Porque por melhor que seja a teoria na prancheta, sem bons jogadores não se faz um bom time. Pode colocar o Rinus Michels, o Telê, o Guardiola no banco. Não vinga sem gente boa de bola em campo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Com o aporte da UNIMED, fica mais facil não é NORI.

Adriana Lima disse...

Compartilhei esse seu texto no Face para meus amigos tricolores.
Fez sucesso. Muito bom Nori.