quinta-feira, julho 17, 2014

Minha sugestão para o futebol brasileiro


Fala-se em mudanças no futebol brasileiro.

Torço para que aconteçam.

Mas, sinceramente, duvido.

Basta ver as pessoas que vão propor essa mudança e seguem no comando da CBF.

São fruto do sistema arcaico que ainda rege nosso futebol. Um sistema que foi apodrecendo, caducou, mas que sistematicamente se amparou em resultados que muitas vezes se mostraram enganosos.

Deixo aqui uma sugestão do que acho que poderia ser feito para repensar ou pelo menos discutir o futebol brasileiro. Não sou o dono da verdade, nem tenho a solução para problemas que se acumulam há décadas. É uma simples sugestão.

De nada adianta contratar um coordenador técnico, por mais competente e atualizado que seja, se ele terá que responder a pessoas cujo pensamento parou no tempo ou responde a outros interesses.

O primeiro passo, e sei que é inviável hoje, pela questão política, seria democratizar o acesso ao comando do futebol. Renovar o colégio eleitoral, arejá-lo, ampliá-lo.

Como isso parece impossível neste momento, parto para outra etapa.

O momento pede uma grande discussão.

O ideal seria montar um grupo de discussão, uma espécie de Conselho do Futebol Nacional. Este conselho seria formado por ex-jogadores das décadas de 50 até atletas atuantes ainda hoje e com experiência internacional. Expoentes no pensamento, na experiência e na execução. Também seriam ouvidos preparadores físicos de excelência, médicos, dirigentes históricos, gente do porte de um Francisco Horta, por exemplo. Profissionais com experiência em outras ligas e outros esportes, executivos de televisão e marketing. Não basta entregar a jogadores e ex-jogadores o futuro do futebol, porque ter jogado, bem ou mal, não fornece a chave para o sucesso em outras áreas do esporte.

Este conselho estudaria nosso futebol por um prazo de, digamos, três a seis meses, para produzir um diagnóstico preciso dos problemas e apresentar um plano de longo prazo que aponte um caminho.

O que poderia surgir deste caminho?

Uma reformulação profunda no sistema de base do nosso futebol, carcomido pela ação gananciosa de empresários, dirigentes e oportunistas.

A criação de uma Escola Nacional de Treinadores de Futebol, que até pode ser supervisionada pela CBF, mas precisa ser independente na questão política, qualificada pela meritocracia e atualização. Dessa escola surgiriam os treinadores do futuro, com estudo e preparação na base do passado glorioso do futebol nacional. Essa escola abasteceria o País de treinadores para trabalhar da base ao profissional.

É preciso resgatar a excelência técnica do futebol brasileiro, mas sem a pequenez da mal disfarçada rivalidade que existe hoje entre o boleiro empírico e o treinador científico. Esses personagens precisam caminhar juntos na busca pela recuperação da nossa identidade.

O Conselho do Futebol Nacional seria encarregado de estudar uma proposta de calendário que não seja uma simples cópia do que se faz nas grandes ligas europeias, mas um projeto que atenda às necessidades de um País do Hemisfério Sul, com dimensões continentais e inserido no contexto dessa realidade.

Desse debate pode sair um novo projeto para o futebol brasileiro, incluindo a modalidade feminina.

Ficaria feliz se desse projeto surgissem medidas como a extinção das seleções brasileiras sub-15 para baixo, que nada acrescentam. É preciso formar melhor nossos atletas e não transformá-los em mini celebridades para atender a interesses comerciais desde muito cedo.

O feudo chamado Granja Comary, cuja utilidade e funcionalidade parecem ultrapassados, representa muito da imagem negativa do futebol brasileiro atual.

A concentração tomada pela névoa que impede e prejudica treinamentos produz uma excelente figura visual e de linguagem para o momento.

A Confederação rica, que nada em propriedades e recursos, contrasta com os clubes em situação falimentar, mesmo recebendo recursos como jamais receberam em suas histórias, de TV, marketing etc.

A elitização proposta por alguns, que entendem que não há mais espaço para times médios e pequenos, é algo que abomino. Porque é uma proposta canibal, que como o tempo transformará alguns grandes em médios e eliminará alguns médios, já que os pequenos estão em processo de extinção.

Repito: não se pode encaixar a realidade da Inglaterra em um País como o Brasil. É discurso para agradar patota e nada mais.

Falar em uma Liga pode soar moderno, mas dirigida por essas pessoas que aí estão ela teria sucesso?

Intervenção do Governo Federal é outra insanidade.

A função de Brasília nisso tudo é fazer com que as leis sejam cumpridas e regulamentar melhor o esporte no País. Até porque o futebol não depende exclusivamente da injeção de recursos federais como boa parte dos esportes equivocadamente ainda chamados de amadores.

Governo tem que garantir recursos para o esporte como educação e lazer, nas escolas e praças públicas. Esporte de alto rendimento deve gozar de incentivos fiscais. É meu pensamento.

Há um grande caminho a ser percorrido.

Mas enquanto não houver amplo debate, as soluções serão sempre paliativas.

O Brasil, no que se refere ao futebol, é raso em termos de ideias. Ganhou está tudo ótimo. Perdeu nada presta. Este pensamento, historicamente, é o maior responsável pelos 7 a 1.

Muda, Brasil!

2 comentários:

FRANCISCO disse...

Boa noite, Nori!

Entendo que toda alternativa de solução deve ser discutida e até criticada, para que, aparadas as arestas, possa se tornar solução alternativa.

Na sua proposta, não me agrada a ideia do comitê gestor. Essa patacoada foi introduzida no comando do Santos, produzindo uma besteira atrás da outra, inclusive atrasando a implantação de ações que requeriam urgência.

Entendo que você seja democrata. Eu, ao contrário, abomino decisões de maioria. CRISTO FOI CRUCIFICADO POR DECISÃO DE MAIORIA. Considero tremenda bobagem o ditado "duas cabeças pensam mais bem do que uma", posto que, não importa o volume de cabeças; o que importa é a qualidade do pensamento.
De um grande grupo de idiotas é óbvio que surgirão muitas idéias; porém idéias idiotas.

Coloco no mesmo patamar dos dirigentes da CBF os jornalistas esportivos que tem programas de entrevistas e mesas redondas. Tais programas fingem discutir problemas do futebol brasileiro, enquanto vendem reclame de carro, cerveja, desodorante. ASSIM, COMO NA CBF, O VERDADEIRO OBJETIVO NÃO É O BEM DO ESPORTE; É O DINHEIRO.

E há os falsos jornalistas, inventores de notícia e suas estatísticas mequetrefes.

Quando Mano Menezes foi convidado para montar uma nova seleção, com novo plano de jogo e dando oportunidade para atletas com idade olímpica (exatamente o que hoje se apregoa), teve que cumprir compromissos caça-níqueis, anteriormente assumidos pela CBF.

Com um time em formação, Mano enfrentou Argentina, Inglaterra, França, etc. As notícias publicadas à época davam conta que o time de Mano Menezes não ganhava das seleções de primeiro nível. Assim, Mano foi cozido, assado, frito. Chance para o Marin provar que o que era ruim podia ser muito pior. E vieram Felipão e Parreira, indivíduos que, fazia tempo, não interessavam a nenhum clube brasileiro ou estrangeiro.

Anônimo disse...

Grande Noriega! Passei a acompanhar o teu blog recentemente e concordo com muitas de suas idéias para mudança no nosso futebol, inclusive esta de montar um Conselho e uma escola de treinadores, infelizmente não acredito que veremos mudanças profundas, pois o comando está nas mãos de pessoas retrógradas. Grande abraço e continue publicando suas idéias!